Começou a tramitar no Congresso o tripé de propostas de novo Pacto Federativo
elaborado pelo Executivo, no final do ano passado, para acabar até 2025 com a
guerra fiscal - concessão de benefícios pelos governos estaduais para atrair
empresas. Ao mesmo tempo, o tema ganha força e será incluído entre as
prioridades da Câmara e do Senado este ano, de acordo com manifestações de
líderes governistas e dos novos presidentes das Casas, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL). Alves saiu na frente e marcou pra o
próximo dia 13 de março uma reunião com os governadores para discutirem a
reforma do pacto federativo.
Na avaliação do presidente da Câmara, o
pacto "está falido" e precisa ser revisto. "Eu sou de um tempo em que os
municípios eram pobres, hoje eles estão paupérrimos, falidos. E os estados
também começam a perder autonomia, perder renda, orçamento. Isso precisa ser
rediscutido entre União, estados e municípios", disse.
Compensação
Um das pontas do pacote do governo cria, pela Medida
Provisória (MP) 599/12, uma compensação aos estados pela perda de arrecadação do
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).
É o Fundo de
Desenvolvimento Regional, com recursos para investimentos estimados em quase R$
300 bilhões - R$ 222 bilhões, entre 2014 e 2033, via - instituição oficial de
crédito, e R$ 74 bilhões, por meio de transferências aos estados e ao Distrito
Federal.
Essa proposta desenvolvida pelo governo visa enfrentar um dos
argumentos usados pelos estados na guerra fiscal - a ausência de política
federal de combate às desigualdades regionais.
Já o Projeto de Resolução
(PRS) 1/13, vinculado a essa MP, unifica gradualmente em 4% até 2015 as
alíquotas interestaduais do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços).
Atualmente, há duas alíquotas - 7% nos estados do sul e
sudeste (exceto Espírito Santo) e de 12% nos demais. Essa proposição tramita na
Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Será examinada apenas pelo Senado, sendo
promulgada em seguida, se aprovada.
Como a redução prevista é de um ponto
percentual ao ano, a alíquota das Regiões Sul e Sudeste chegaria a 4% em 2016 -
percentual que só seria utilizado pelas demais regiões em 2025.
Mudança
Com a mudança, o governo federal pretende deslocar o peso
da tributação da origem para o destino das mercadorias, o que desestimularia a
concessão de benefícios que hoje movem a guerra fiscal.
O projeto de
resolução tira da regra geral as operações originadas da Zona Franca de Manaus e
as realizadas com gás natural, cuja alíquota continuará em
12%.
Expectativa
A expectativa do governo é de aprovar essas
alterações ainda neste ano, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, um dos
idealizadores das mudanças, juntamente com a ministra do Planejamento, Miriam
Belchior, com o apoio da presidente Dilma Rousseff.
"Hoje, nós temos um
sistema de ICMS complicado, que traz insegurança para os investidores. São 27
regimes diferentes [um por estado] e o mais grave é a guerra fiscal, que é
considerada ilegal pelo STF [Supremo Tribunal Federal]", argumentou o ministro
Mantega, ao defender a proposta no Senado.
Quórum para
benefícios
Além do projeto e da MP, ainda faz parte das propostas do novo
Pacto Federativo, um projeto de lei complementar (PLP) 238/13, em tramitação na
Câmara, que propõe quórum diferenciado para aprovação de convênio com estados e
Distrito Federal para equacionar os benefícios e incentivos fiscais concedidos
em desacordo com a Constituição - exatamente os que serviram de base à guerra
fiscal.
O mesmo projeto prevê a alteração dos critérios de indexação nos
contratos de refinanciamento celebrados entre União, estados e
municípios.
As dívidas passariam a ser corrigidas pelo Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mais juros de 4% ao ano. Atualmente, o saldo
devedor dos estados e municípios é atualizado pelo Índice Geral de
Preços-Disponibilidade Interna (IGP-DI) mais juros de 6% a
9%.
Negociações
O senador José Pimentel (PT/CE), líder do
governo, prevê que, para o fim da guerra fiscal, a negociação com os estados
deve se intensificar, mas a proposta ainda está longe de um consenso. Para ele,
unificar as alíquotas do ICMS e acabar com a guerra fiscal por investimentos
significa "construir um sistema tributário mais racional e menos oneroso para o
setor produtivo, o que pode estimular a economia".
Abnor
Gondim
Fonte:
DCI