terça-feira, 19 de junho de 2012

Estresse aumenta em tempos de carga pesada

Prazos cada vez mais curtos, sobrecarga de trabalho e pouca autonomia sobre o gerenciamento das tarefas são três fatores que, combinados, formam o cenário perfeito para o desencadeamento do estresse entre profissionais. A conclusão é do economista americano Sean Nicholson, considerado um dos maiores especialistas no assunto e que está no Brasil esta semana para participar do 12º Congresso de Stress da Isma-BR, que acontece entre 19 e 21 de junho em Porto Alegre.
PhD, professor associado da Cornell University (EUA), pesquisador associado do National Bureau of Economic Research e diretor de pesquisa da Upstate Health Research Network, Nicholson diz que, embora não existam dados que comprovem o aumento do estresse relacionado ao trabalho na população mundial, há evidências regionais de que isso esteja acontecendo.
No Brasil, por exemplo, o problema já afeta 70% da população economicamente ativa, segundo dados da International Stress Management Association (Isma-BR). Desses, 30% sofrem com o nível mais devastador da doença, conhecido como "burnout". Nicholson menciona também um estudo do Reino Unido. Lá, 530 mil profissionais procuraram médicos pelo que achavam ser doenças relacionadas ao estresse em 2006. Em 2000, esse índice era de 110 mil pessoas. "Mais profissionais estão sofrendo com estresse associado ao trabalho. Isso acontece porque alguns fatores que causam o problema se tornaram mais comuns", diz.
Isso inclui prazos cada vez menores para a realização de tarefas profissionais e o fato de as pessoas terem grandes demandas no cargo, mas pouco controle sobre o fluxo e a forma como o trabalho deve ser concluído. Longas jornadas, insegurança, falta de reconhecimento, supervisão abusiva, falta de apoio dos colegas e dos gestores completam o quadro, segundo Nicholson.
No Brasil, uma pesquisa da Isma-BR com mil executivos do Rio Grande do Sul e de São Paulo entre gerentes, supervisores e CEOs com idades de 25 a 60 anos, mostrou que 62% culparam a falta de tempo pelo estresse e 41%, a falta de controle, ocasionada por muita responsabilidade e pouca autonomia, o que comprova a percepção de Nicholson.
No país, os profissionais mais suscetíveis ao estresse são aqueles com idade entre 35 e 49 anos. No entanto, o especialista ressalta que a faixa etária mais atingida pelo problema varia de acordo com as regiões. Nos Estados Unidos, por exemplo, o pico do estresse acontece por volta dos 30 anos e diminui depois tanto para homens quanto para mulheres. "Um dos quebra-cabeças nesse assunto é explicar como o estresse atinge as pessoas conforme a idade", diz. "Pessoas na faixa dos trinta e poucos anos normalmente têm filhos. Quando você inclui a paternidade à já existente carga de trabalho, isso cria mais estresse", explica.
Também não há unanimidade quando se analisam os dados com base no gênero. Nos Estados Unidos, estudos mostram que as mulheres tendem a sofrer mais com estresse. Já na Europa, são os homens que apresentam mais chance de relatar o problema.
As consequências de se ter uma população economicamente ativa estressada são muitas. As doenças mais comuns associadas ao problema são depressão, ansiedade, pressão alta, dependência de álcool, desordem musculoesquelética e exaustão.
De acordo com o estudo da Isma-BR, entre os executivos brasileiros, 86% relatam dores musculares - incluindo dores de cabeça -, 81%, ansiedade e 57% buscam uma saída consumindo álcool ou drogas prescritas. O comportamento das pessoas no ambiente profissional também muda nesse cenário. Quase metade dos entrevistados disseram ficar mais agressivos e 18% já tiveram alguma explosão de raiva.
Nicholson afirma que, além das doenças físicas e psicológicas, o estresse acarreta um alto custo médico, faz com que as pessoas se ausentem mais do trabalho, diminui a produtividade e aumenta a rotatividade. De acordo com ele, estima-se que 70 milhões de dias de trabalho sejam perdidos por ano em razão de saúde mental debilitada somente no Reino Unido. "Dentro desse índice, 10 milhões são resultado de ansiedade, depressão e estresse originados das condições de trabalho", afirma. Já nos Estados Unidos, o custo do estresse é estimado em US$ 300 bilhões por ano.
Existem maneiras, contudo, de se evitar o aumento do problema. Uma das coisas mais importantes que as empresas podem fazer, na opinião de Nicholson, é dar aos seus funcionários poder de decisão. "É essencial aumentar o controle que eles têm sobre seus trabalhos ou, ao menos, melhorar a percepção que eles têm sobre isso", diz.


Fonte: Valor Econômico

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