segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Seja um líder, não um chefe

Costumava-se dizer que crianças deveriam ser vistas, não ouvidas. A única coisa que um pai precisava dizer para justificar uma decisão era: “Porque eu estou dizendo!” Esse autoritarismo prossegue nas salas de aula e nos locais de trabalho, onde professores e gerentes simplesmente substituem os pais como as pessoas cuja palavra é lei. Mas as atitudes mudaram e, atualmente, se tem algo que me incomoda, é quando alguém diz: “Tudo bem. Você é o chefe”.

Porque na maioria dos casos o que a pessoa realmente quer dizer é: “Ok. Eu não concordo com você, mas farei porque você está mandando. Se não der certo, eu serei o primeiro a lembrar todo mundo que a ideia não foi minha”.

No atual mundo dos negócios, curvar-se ao chefe é um anacronismo. Da mesma forma, ser mandão não é um atributo desejável em um gerente ou em qualquer pessoa.

Felizmente, as atitudes mudaram tanto em casa quanto no trabalho. O debate saudável era um modo de vida em nosso lar. Apesar de minha mãe geralmente dar a palavra final (e continua assim), minhas irmãs e eu éramos encorajados a expressar nossos pensamentos a respeito de tudo.

Mas na escola a história era diferente. Minha dislexia e rebeldia fizeram com que estivesse destinado a ser meu próprio chefe. Ou como colocou o diretor da Stowe School quando a abandonei na adolescência: “Parabéns, Branson. Eu prevejo que ou você irá para a prisão ou se tornará milionário”.

Como ocorreu, daquele dia em diante eu sempre fui afortunado o suficiente para ser meu próprio chefe e acabei atrás das grades apenas uma vez, mas brevemente!

O latim nunca foi minha matéria favorita na escola –na verdade, eu não acho que tinha uma matéria favorita, fora esportes –mas uma palavra na aula de latim que me marcou foi o verbo “educere”. Eu me recordo de ter ficado bastante surpreso ao aprender que a raiz da palavra “educação” na verdade significa “levar adiante”. Até aquele momento, eu achava que educação era apenas “abarrotar”. E apesar de um professor de escola ruim, assim como um chefe ruim, ensinar ou administrar apenas abarrotando seus encarregados de opiniões, um bom professor ou líder corporativo fará o posto, extraindo opiniões e ideias de seus estudantes ou associados.

Se você está notando que você e seus gerentes se veem, apesar de seus melhores esforços, na posição de dar ordens em vez de dar ouvido às decisões de seus funcionários, primeiro olhe atentamente para como o espaço de seu escritório é disposto. Grande parte dessa estrutura administrativa tradicional começa com a planta da maioria dos prédios de escritórios, que a reforça desde o escritório de canto no último andar até os espaços escuros concedidos aos funcionários de nível mais baixo no térreo ou em um porão sem janela.

Essa distribuição hierárquica dos pisos está frequentemente ausente de locais de trabalho que pensam à frente. Nós não construímos sedes mundiais de vidro e concreto para o Virgin Group. Eu passei minha carreira trabalhando em três lugares: no barco, em casa e na rede. Nossas empresas estão todas localizadas em prédios que são adaptados individualmente para as nossas necessidades, enquanto o endereço do mais próximo que temos de uma matriz diz tudo: “A Velha Escola” está longe de ser uma catedral corporativa.

Desde os primórdios de nossa empresa, quando colocamos puffs em nossa loja de discos, convidando os clientes a escutarem música e conversarem com nossos funcionários, em vez de tentar vender algo rapidamente para eles e conduzi-los para fora, eu sou fã de escritórios com espaço aberto. A maioria deveria ter muitos espaços comuns para troca de ideias, salas de estar, cozinhas, onde os colegas de trabalho possam se reunir naturalmente e conversar. Paredes, portas, mesas e balcões são barreiras para a comunicação.

E agora olhe para si mesmo: um líder é muito diferente de um chefe. Muitos presidentes-executivos são chefes, não líderes, orientando seus funcionários de muito longe das linhas de frente. Mas ficar sentado na sala do conselho, ouvindo até mesmo os relatórios mais minuciosos da linha de frente, nunca se compara a estar lá e ver, ouvir e entender essas interações com seus clientes pessoalmente. Se você não estiver frequentemente lá, atuando ao lado de seus funcionários, você simplesmente não conseguirá permanecer em contato com as realidades de seu negócio.

Então, da próxima vez que alguém disser para você: “Ok, você é o chefe” ao sair pela porta, não deixe ficar assim. Diga: “Na verdade, não –nós estamos todos juntos nisso. Então volte aqui e me diga o que você faria se estivesse no meu lugar?” Ainda melhor, da próxima vez que visitar essa pessoa em seu espaço de trabalho, destine algumas horas para ele, buscando sua opinião e vendo como as coisas estão andando. Bons exemplos são contagiosos, assim como a verdadeira liderança.

Tradutor: George El Khouri Andolfato                   

Richard Branson

O megaempresário inglês é criador do grupo Virgin, que tem 200 companhias em mais de 30 países, incluindo a empresa aérea de baixo custo de mesmo nome

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