segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Não existe certo ou errado quando o assunto é carreira e filhos

Fui a uma festa oferecida por uma amiga que há pouco teve um bebê. Metade das convidadas também teve filhos recentemente e havia crianças por todos os cantos: gritando, dormindo e sendo alimentadas em carrinhos de bebês, braços e seios. Sentei-me entre duas mulheres que conversavam animadamente sobre seus retornos ao trabalho. Uma delas trabalha por conta própria e não tirou licença-maternidade, enquanto que a outra está na metade do afastamento de um ano, mas já planeja voltar à empresa em regime de meio-período.
Enquanto prestava atenção na conversa das duas, lembrei-me daquele misto de camaradagem, competitividade, ansiedade e exaustão, e pensei como as coisas mudaram pouco nos 20 anos desde que tive meu primeiro filho. Estas questões sobre como dividir o tempo entre um bebê e o emprego continuam sendo feitas com a mesma urgência e confusão que antes. Hoje, mesmo com duas décadas a mais de informações, não estamos nem perto de chegar a uma resposta.
Quando há pouco tempo, em gravidez adiantada, Marissa Mayer assumiu o cargo de presidente-executiva do Yahoo, a única resposta lógica foi dar de ombros. Afinal, ela não é a primeira mulher grávida bem-sucedida. Mas ninguém deu de ombros: em vez disso, mais de quatro mil artigos de jornal foram escritos, de diversas maneiras considerando-a uma heroína, uma mãe ruim, um grande exemplo a ser seguido e exemplo de coisa nenhuma.
De certo modo, é chato e sem sentido discutir um assunto como esse novamente. Mesmo assim, entendo por que ainda não encontramos respostas satisfatórias: é porque elas não existem. Não há um período ideal de licença-maternidade. Não há uma melhor maneira de combinar a maternidade com o emprego. Acima de tudo, não há equilíbrio. O que há, na verdade, é um jogo contínuo e flexível de sobrevivência, cujas regras não são claras, mudam e são diferentes para cada pessoa.
Perceber isso deveria significar que podemos parar de falar a respeito. Mas não podemos fazer isso por um motivo: o assunto parece ser muito importante. Minha decisão de passar um terço da minha vida escrevendo artigos como este, em vez de ficar mandando os filhos saírem do Facebook, parece ser a mais difícil que já tomei. Mesmo assim, ao contrário da maioria das outras grandes decisões, em que você normalmente pode refletir posteriormente se as tomou de maneira certa, com essa você nunca sabe. Não existe um teste de controle.
Na verdade não existe uma coisa que pode ser considerada certa, mas apenas uma grande variedade de coisas que podem ser consideradas erradas. Um dia desses, um de meus filhos me telefonou enquanto eu estava trabalhando para dizer que estava indo a um festival de música pop. Quando cheguei em casa, ele havia saído para um destino desconhecido praticamente sem dinheiro, comida e protetor solar.
Isso me pareceu meio errado.
Eis como a coisa funciona. Trata-se de um processo que envolve muitas tentativas e erros. Quando os erros parecem grandes demais, fazemos uma Anne-Marie Slaughter e ficamos na esperança de que menos erros aconteçam sob o novo regime. extraordinário no caso dela, não foi o fato de ela ter deixado um belo emprego na Casa Branca, ou ter escrito um artigo insano em que declarou que sua mudança de curso prova que as mulheres não podem ter tudo. O extraordinário foi que ela alcançou sua sexta década de vida sem perceber isso antes.
Na ausência de uma maneira melhor de avaliar como estamos nos saindo, nos envolvemos compulsivamente em uma coisa que destrói a alma: nós comparamos. Nos comparamos a Slaughter e a Mayer, e quando cansamos de nos comparar a pessoas de fora de nosso círculo, entramos nas salas de bate-papo da internet e nos comparamos com pessoas que nem se dão ao trabalho de usar letras maiúsculas.
Mas, principalmente, fazemos o que as mulheres na festa estavam fazendo, nos comparando despropositadamente com pessoas que conhecemos. Sinto náusea quando ouço que uma amiga mandou um filho para Florença no verão para um curso sobre história da arte, mas me sinto um pouco mais animada quando outra amiga conta que seus filhos estão passando as férias dormindo até tarde e assistindo vídeos no YouTube no sofá por muitas horas seguidas.
Essas sensações parecem um pouco estúpidas, pois os filhos não são meus. Mas como resultado dessas comparações, descobri uma coisa encorajadora de uma maneira sombria.
Uma amiga que parou de trabalhar décadas atrás para cuidar de quatro filhos encantadores, divertidos e cultos, ouviu recentemente do mais velho que ela é um zero à esquerda, patética e que desperdiçou a vida. Engraçado isso. Um dos meus filhos me disse não muito tempo atrás que eu estava tão ocupada vivendo minha própria vida que não tinha ideia do que estava acontecendo na deles.
Há apenas uma certeza nesse jogo individual da sobrevivência. Faça o que fizer, sempre haverá vozes raivosas na imprensa dizendo a você que sua resposta está errada. Mas não é preciso dar importância a elas quando você tem em casa um adolescente ainda mais raivoso lhe dizendo a mesma coisa com uma convicção ainda maior.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

Fonte: Valor Econômico

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