A falta de uma súmula vinculante, que poderá por fim à guerra
fiscal - gerada por incentivos fiscais, dados de forma inconstitucional por
diversos estados brasileiros -, está causando uma grave insegurança jurídica no
País, que tem como principal consequência a paralisação de novos investimentos
privados. É o que apontam secretários de Fazenda e especialistas ouvidos pelo
DCI.
"Há uma grande incerteza no campo fiscal e estadual por causa da
definição do STF [Supremo Tribunal Federal] de 14 ações de
inconstitucionalidade, contra estados que concediam benefícios sem aprovação
unânime no Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária] - conforme prevê
lei", explica o secretário da Fazenda de São Paulo, Andrea Calabi.
Essa também é a opinião do secretário da Fazenda de Santa
Catarina, Nelson Serpa. "As empresas instaladas em Santa Catarina têm
demonstrado certa apreensão, mas até o momento não há uma manifestação expressa
das empresas de cessarem as atividades no estado. Mas o governo está
concentrando todos os esforços para manter os investimentos que foram feitos
aqui", afirmou. Segundo Calabi, porém, há esperança de que essas incertezas
sejam superadas, já que há apoio do governo federal para acabar com a chamada
guerra fiscal. "Devemos superar essas incertezas para justamente incentivar as
decisões de investimentos, que encontram hoje num ambiente instável",
analisa.
Como o STF decidiu que esses incentivos já concedidos são
ilegais, agora precisa definir se os empresários terão que devolver aos cofres
estaduais as reduções de impostos, ou se os contratos serão mantidos, mas com a
impossibilidade de serem feitos novos acordos entre o ente da federação e a
empresa. Sem essas definições que estarão na súmula vinculante, o setor privado
tem receio de investir em estados onde não há infraestrutura adequada ao seu
ramo.
"O objetivo da empresa é sempre ter lucro. Se não há um
incentivo para que se construa uma fábrica no Piauí, por exemplo, porque ele irá
investir lá. Isto faz com que aquele estado continue a não receber recursos
privados e não se desenvolva economicamente. Ou seja, é um problema nacional",
entende Hamilton Dias de Souza, do escritório Dias de Souza Advogados
Associados.
Para ele, uma das soluções seria retirar a exigência da
unanimidade do Confaz em novos contratos. "Ou pelo menos convalidar os
benefícios realizados", aponta.
O problema, para Osvaldo Santos de Carvalho, coordenador-adjunto
da Administração Tributária da Secretaria de Fazenda paulista, é que há muita
divergência entre os estados que dizem ter prejuízos por pagar a conta de quem
dá incentivos e aqueles entes que afirmam que essa forma, mesmo ilegal, é o que
ajuda no desenvolvimento de uma região. "São Paulo aceita os benefícios se esses
forem aprovados no âmbito do Confaz. Mas não podemos aceitar perder
competitividade por conta de atitudes ilegais", diz.
De acordo com Bernard Appy, ex-secretário de Reformas
Econômico-Fiscais - que também acredita que essa situação prejudica
principalmente a ocorrência de novos investimentos -, por causa da guerra
fiscal, os estados perdem R$ 30 bilhões por ano.
Para o secretário do Desenvolvimento Econômico do Rio de
Janeiro, Júlio Bueno, o empresário não pode depender de incentivo fiscal para
investir. "Esses benefícios fiscais são que nem amor de carnaval, podem não
durar", exemplifica. Por outro lado, ele afirma ser favorável aos incentivos.
"Todo mundo dá benefícios. O problema é que a lei está errada. A questão da
unanimidade do Confaz quebra a autonomia federativa, prevista também pela
Constituição Federal", afirma. O ex-secretário da Receita Federal, Everardo
Maciel, concorda com Bueno. "A lei é obsoleta. E as sanções aplicadas são
ineficientes. A situação é tão complicada que nas decisões do STF São Paulo foi
autor de ação e réu ao mesmo tempo. Por isso, é evidente que precisa de nova lei
complementar", analisou durante workshop promovido pelo Instituto Geraldo
Ataliba (Idepe).
Pacto federativo
Todos concordam, contudo, que a definição de um novo pacto
federativo seria um meio para resolver a guerra fiscal. Como o assunto é
complexo, o Senado institui uma comissão de especialistas para analisar a
questão.
Segundo o professor Paulo de Barros Carvalho, que integram a
comissão assim como Maciel e Appy, uma das sugestões que podem resolver a
ineficiência das atuais sanções, mas que deve causar polêmica, é tratar esses
atos como crime, ou seja, os representantes daqueles estados podem ser
presos.
As propostas da comissão serão entregues no mês que vem ao
presidente do Senado José Sarney. Questionado pelo DCI se há uma expectativa de
quando as soluções serão colocadas em prática, Carvalho diz que "depende da
agenda política do Senado".
Fonte: Diário do Comércio e Indústria
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