segunda-feira, 9 de abril de 2012

Mulheres poderosas amedrontam muito mais que os homens

Na semana passada fui a uma festa dada por uma velha amiga da universidade. Foi um evento muito divertido, cheio de pessoas que conheço há mais de 30 anos. Mas quando fui embora, percebi uma coisa estranha: comecei a ficar assustada com minhas amigas bem-sucedidas.
Pensei, então, nos homens que estavam na festa - a maioria perdendo a cintura. Nenhum deles chegou a me deixar nervosa, mesmo aqueles com grandes empregos e opiniões ainda maiores sobre si mesmos.
O que há nas mulheres bem-sucedidas que as tornam tão amedrontadoras? Tome por exemplo duas das cinquentonas mais assustadoras do mundo: Madonna e Angela Merkel. A primeira acaba de lançar um novo videoclipe cheio de insinuações sexuais em que ela é espremida contra uma parede em indumentária sadomasoquista e domina homens negros que giram em torno dela. A fonte desse medo não é exatamente obscura, mas vem para cima de você em botas de cano alto.
O medo imposto por Angela Merkel é bem diferente e, no geral, mais misterioso. Ela evita as calças coladas no corpo - recentemente foi fotografada com um discreto casaco verde-ervilha, constrangedoramente parecido com um que eu tenho. Seu quociente de terror nada tem a ver com o erotismo, mas paira sobreela como uma auréola em seu corte de cabelo e na maneira como franze os lábios.
Como experiência de controle, olhei para uma fotografia do presidente francês Nicolas Sarkozy, mas em vez de sentir medo, senti vontade de rir - até que vi a Carla Bruni, parada de forma assustadora ao seu lado. É a mesma coisa com os Clinton: Hillary assusta, Bill não.
Quando penso em minhas colegas, vejo um padrão parecido. Marjorie Scardino, presidente-executiva da Pearson, que controla o "Financial Times", consegue me deixar amedrontada de uma maneira que seu antecessor do sexo masculino não deixava. Muitas de minhas colegas mais graduadas são assustadoras. Seus pares que ocupam cargos parecidos são "garotinhas" em comparação.
Não estou dizendo que não há homens assustadores. Se eu fosse colocada cara a cara com Bashar al-Assad, ouso dizer que me sentiria meio incomodada por estar diante de um homem acusado de assassinatos em massa. Tenho certeza que Steve Jobs também era bem amedrontador, principalmente quando estava nervoso.
Mas preciso de um motivo para achar isso deles e poucas mulheres que me metem medo fazem isso por alguma razão em especial. Margaret Thatcher e Anna Wintour, que são tirânicas em escala mundial, estão nesta categoria. Assim como Rebekah Brooks, com aqueles cabelos flamejantes e temperamento idem. Na verdade, ela é muito mais assustadora que os dois Murdoch, o pai e o filho, juntos, o que é muita coisa.
A ampla maioria das mulheres que me deixa amedrontada, porém, não fez nada em particular. Então por que isso acontece? Pensei e cheguei a meia dúzia de motivos. Nenhum deles é uma explicação completa, mas aí vão eles mesmo assim.
Em primeiro lugar, o medo pode ser uma coisa darwiniana. É mais difícil para as mulheres avançar na profissão, de modo que aquelas que conseguem isso precisam impressionar mais e ser duronas. Em segundo lugar, pode ser que as mulheres ajam de uma maneira assustadora para abafar a voz de sua impostora interior. E em terceiro, elas podem ser naturalmente amedrontadoras, uma vez que é difícil interpretá-las. A imprevisibilidade leva à ansiedade.
E pode ser que isso não tenha a ver com mulheres bem-sucedidas, mas sim com a maneira como as percebemos. Se ainda esperamos que as mulheres sejam maternais, ficamos alarmados quando elas não demonstram nenhum sinal disso. Ou pode ser simplesmente um produto da escassez. Se você é rara, é mais fácil ser assustadora.
Uma última possibilidade é que isso pode ter ligação com as mulheres de nossa infância. Lembro-me de ter ido a um jantar em que estavam presentes dois homens que tiveram um papel muito importante na política externa do Reino Unido. No começo, a discussão envolveu o Afeganistão, mas durante o café ela mudou para a escola preparatória e ficou claro que a inspetora de alunos inspirava mais medo que o Taliban.
Não importa o motivo, ser amedrontadora é uma grande vantagem para as mulheres. Conheço muitas mulheres que abrem seus caminhos porque seus chefes ficam com medo de lhes dizer não. Elas não são tiranas ou sórdidas, mas sabem quando dar um olhar duro, uma palavra ríspida e como erguer a cabeça e fazer todo mundo - homens e mulheres - entrarem na linha.
Escrever esta coluna me fez decidir aumentar meu próprio quociente de terror. Mas antes de começar, tentei avaliar o ponto de partida e pedi a um colega que me classificasse na escala do terror, de um a dez. "Onze", respondeu ele. Seus olhos brilhavam enquanto ele falava, o que pode ter significado que ele falava de coração. Ou pode significar que ele estava simplesmente brincando.

Lucy Kellaway é colunista do "Financial Times". Sua coluna é publicada às segundas-feiras na editoria de Carreira

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